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20 de julho de 2017

Casa da Vedoria (10) - Viana do Castelo

 Pedra de Armas dos Sousa - fachada principal


A Pedra de Armas:

Sobre o portal principal surge brasão com as armas de D. João de Sousa; com escudo pleno, dos Sousa (do Prado): tendo no I e IV quartéis de prata, com 5 escudetes de azul postos em cruz, cada um carregado de cinco besantes do campo; II e III, de prata, com leão de púrpura; coronel de conde. 
Ao nível do segundo piso, tem lápide com a inscrição: NO ANNO DE XRISTO DE 1691 IMPERANDO NESTE REINO D. PEDRO II NOSSO SENHOR. GOVERNANDO AS ARMAS DESTA PROVINCIA D. JOÃO DE SOUZA SE FES ESTA OBRA.

Pedra de Armas sobre portal de entrada

Fachada da casa - actual

Vista da fachada - antiga (Clube Português de Fotografia - CPF)

Esta casa foi edificada no séc. XVII, com os fins de Vedoria Geral do Distrito e situa-se no gaveto das ruas de Manuel Espregueira, 140 (antiga rua de S. Sebastião) com a rua da Vedoria (antiga rua da esperança).
Serviu como residência dos Vedores e para a sua construção muito contribuiu o 4º Vedor, Sebastião Rodrigues Roquelho.
Na sua construção teve como projecto a figura o Eng. Manuel Pinto Villalobos, muito conceituado na época e figura de relevo na cidade de Viana do Castelo. 


Descrição da casa:

Planta rectangular composta por dois corpos dispostos em eixo, o primeiro mais pequeno e o segundo bastante prolongado, de volumes escalonados e coberturas diferenciadas em telhados de quatro águas. Fachadas rebocadas e pintadas de branco com embasamento de cantaria e terminada em triplo friso e cornija, bastante avançada, moldurada e sobreposta por beirado simples. Fachada principal virada a S., de dois pisos separados por cornija rectilínea bastante avançada, frontalmente marcada por dois filetes; possui pilastras nos cunhais e a definir dois panos, desiguais, com fuste em silharia fendida, tendo no seu enfiamento, cachorros em forma de modilhão sobrepostos à cornija do remate da fachada. No pano da direita, mais largo, abre-se, ao centro, portal de verga recta, ladeado por pilastras em silharia fendida e aduelas em cunha, sendo ao centro sobreposta por brasão de família, de formato irregular, com as armas de D. João de Sousa, envolto em enrolamentos e com coronel. O portal é ladeado por duas janelas de peitoril, com moldura e pano de peitoril em silharia fendida, encimadas por aduelas em cunha, cornija e friso. O portal é encimado, ao nível do segundo piso, por lápide rectangular, inscrita, sobre friso saliente em silharia fendida e ladeada por volutas, encimada por frontão interrompido por volutas, e elemento fitomórfico, sobrepujado pelas armas de Portugal, inseridas em cartela com enrolamentos, onde se sentam dois anjos que seguram coroa fechada rematada por cruz latina. 


Fachada principal - Pedra de Armas / Lápide / Pedra de Armas Nacionais

Ladeia o brasão duas janelas de sacada, assentes em mísulas volutadas, que se sobrepõem ao friso e cornija das janelas do piso térreo, com o mesmo tipo de moldura, mas com capitel jónico, encimadas por friso e frontão triangular, de tímpano em cantaria e tendo a sobrepor o friso e cornija inferior do frontão aduelas em cunha; possuem guarda em ferro, com motivos tipo balaústres. O pano da esquerda, mais estreito, é rasgado por portal de verga recta com moldura em silharia fendida e aduelas em cunha, encimado, ao nível do segundo piso, por janela de peitoril, iguais às do outro pano e com pano de peito igualmente em silharia fendida. Fachada lateral direita de dois panos, o esquerdo mais antigo e o da direita de construção posterior. O primeiro tem pilastras nos cunhais, com fuste em silharia fendida, rasgada no topo do primeiro piso por janela de peitoril, moldurada e interligada a janela de sacada do segundo piso, assente em duas mísulas decoradas, encimada por friso e cornija; é ladeada no piso térreo por janela rectangular jacente, de moldura simples, e, no segundo piso, por duas janelas rectangulares jacentes, com moldura de capialço. Corpo adossado, mais baixo, de dois pisos, terminado em friso e cornija rematado por beirado simples e rasgado por cinco eixos de vãos rectilíneos, composto por duas janelas de peitoril, de molduras simples, sobrepostas.

Cronologia da Casa:

1643, 26 Agosto - Alvará de D. João IV, dado em Évora, para reforma e regulamento das Vedorias Gerais e manutenções de víveres paras as tropas portuguesas;
4 Outubro - despacho nomeando como 1º Vedor Geral da Província do Minho Martim Velho Barreto, da família dos Rego Barretos;
1651, 1 Maio / 1659, Julho, entre - foi Vedor Geral da Província António Salinas;
1688, 30 Agosto / 1696, Novembro - foi Vedor Geral da Província Sebastião Roiz Roquelho; construção da casa durante o seu mandato na então R. de São Sebastião, com projecto e direcção do Engenheiro Manuel Pinto de Vilalobos, e sendo então Governador das Armas da Província do Minho D. João de Sousa, da Casa dos Marqueses de Minas; o edifício estendia-se pela R. da Esperança com os seus armazéns de armas, até à R. das Rosas; em frente ficava a Aula Militar, onde funcionava a Escola de Geometria e Trigonometria (criada em Viana em 1688);
1691 - conclusão da casa;
1697, 11 Outubro / 1705, entre - foi Vedor Geral Rafael Abreu de Passos;
1698 - atribuição de uma tença de 30$000 rs a D. Antónia Maria de Vilalobos referindo a autoria do traçado da Casa da Vedoria do Minho, quartéis de cavalaria e armazéns das armas e munições da praça de Viana pelo engenheiro Manuel Vilalobos;
1701, 20 Julho - criação da Escola de Engenharia em Viana que iria funcionar juntamente com a de Geometria e Trigonometria;
1705, 11 Julho / 1714, 5 Abril, entre - sucedeu-lhe como Vedor António Brandão;
1714, 21 Julho - toma posse no cargo Sebastião Barbosa Ribeiro;
1763, 21 Julho - decreto extinguindo as Vedorias de Portugal; era então Vedor Geral da Província do Minho António José Pinto Brochado;
1777 - fundação do Colégio do Senhor das Chagas pelo Senado da Câmara, que o entregou às religiosas Ursulinas;
1793 - incorporação da Aula Militar no Quartel de Infantaria;
séc. 19 - durante a guerra Miguelista esteve no edifício um esquadrão de cavalaria;
séc. 19, finais - após a morte da última freira, o Convento tornou-se propriedade privada e na Casa da Vedoria funcionou a Escola Domingos José de Morais;
1860 / 1862, entre -o edifício estava a cargo do Arsenal do Exército, ali habitando militares reformados;
1872 - as casas estavam alugadas a vários militares reformados; 20 Janeiro - Câmara de Viana do Castelo propõe localizar algumas repartições no edifício, mas os militares achavam que era necessária autorização do Ministério de Guerra; data de desenho representando o corpo adossado, mais baixo, com os mesmos cinco eixos de vãos, mas sendo os dos topos compostos por porta e janela de peitoril;
1873 - pedido para se arranjarem os telhados da Vedoria;
1874, 2 Agosto - referência que a Vedoria tinha boas cavalariças, podendo alojar sessenta ou mais cavalos; caso não quisessem o edifício, ele poderia ser alienado em haste pública;
1878, cerca - a casa era propriedade da Companhia de Veteranos;
1912 - projecto de melhoramentos e modificações nas Casas da Vedoria de Viana do Castelo - dependências do D.R. nº 3 e instalações do R.I.R. nº 3;
1922 - D. Moisés Alves de Pinho, posteriormente Bispo de Angola e do Congo, comprou a casa para ali instalar o Seminário das Missões do Espírito Santo; posteriormente, a casa foi vendida pelo seu último administrador José de Barros Lima d'Azevedo do Rego Barreto;
1939 - ali estava instalada a sede do Distrito de Recrutamento e Reserva nº 3, que tinha em funcionamento aulas, parque de viaturas e lojas para arrecadação de sapadores e materiais, sendo necessário instalar mais uma aula, a sala de transmissões e de observadores (estas a sair do edifício da Padaria);
1940, 4 Março - autorização para que o Centro de Mobilização de Artilharia nº 5 se instale nas dependências nº. 2, 3 e 4 do 1º andar da casa da vedoria, onde esteve o DRM nº 3, e as restantes ficassem na posse do comando do Batalhão de Caçadores, nº 9; 13 Março - entrega da casa ao Centro de Mobilização de Artilharia nº. 5, que ocupava três divisões no primeiro piso, e ao Batalhão de Caçadores nº. 9;
1941 - o edifício foi avaliado em 140.000$00; 1955, Abril - saída do Batalhão Caçadores 9; 18 Maio - ali ainda estava instalado o CMA. nº 5; pensou-se utilizar o edifício para messe de oficiais, mas com a existência do Castelo da Barra, achava-se que se devia poupar o imóvel e cedê-lo à Legião Portuguesa;
1956, 27 Julho - auto de cedência a título precário à Legião Portuguesa e com a condição se não serem feitas alterações no prédio; 21 Agosto - entrega de seis dependências do piso térreo, segundo e terceiro piso ao Comando Distrital da Legião Portuguesa de Viana do Castelo;
1957, 9 Maio - novo auto entregando aos mesmos o átrio do piso térreo e cinco dependências do segundo piso, ficando assim todo o edifício para a Legião;
1958, 27 Agosto - Comando Distrital da Legião Portuguesa pede informações sobre algum inconveniente em alterar a estrutura interna do imóvel;
1959 - data de um projecto de obra;
1961 - continuava na posse do Ministério do Exército; 30 Janeiro - Legião Portuguesa pede a cedência de um edifício, tendo conhecimento que o Batalhão de Caçadores nº 9 iria ser desactivado; 15 Novembro - devolvido ao Ministério das Finanças para ser cedido à Legião Portuguesa;
1965 - o edifício, com a área coberta de 235 m2, a área de pisos 522 m2 e com 12 divisões, foi avaliação em 567.820$00;
1975, 03 Outubro - entrega do edifício à DGFP/MF, pedindo a Legião ao Governo Civil parecer sobre futura utilização; o Governo Civil cedeu parte do edifício, ainda não acabado, voltado para a R. da Vedoria, a Sofia da Conceição Meira Gomes, retornada das ex-colónias;
1980, década - ali habitavam refugiados de África;
1992, 01 junho - o imóvel é afeto ao Instituto Português do Património Arquitetónico, pelo Decreto-lei 106F/92, DR, 1.ª série A, n.º 126; 2007, 29 março - afetação do Arquivo à Direção-Geral de Arquivos, Decreto-Lei n.º 93/2007, DR, 1.ª série, n.º 63.

Paula Noé 2007,


Viana do Castelo - Origens:

"A ocupação humana da região de Viana remonta ao Mesolítico, conforme o testemunham inúmeros achados arqueológicos (anteriores à cidadela pré-romana) no Monte de Santa Luzia.
A povoação de Viana recebera a Carta de Foral, de Afonso III de Portugal em 18 de Julho de 1258, tendo passado a chamar-se Viana, da Foz do Lima.
Até à sua elevação a cidade em 20 de Janeiro de 1848, a actual Viana do Castelo chamava-se simplesmente "Viana" (também referida como Viana da Foz do Lima" e "Viana do Minho", para diferenciá-la de Viana do Alentejo.
Na cidade - que cresceu ao longo do rio Lima - podem ser observados os estilos renascentistas, manuelino, barroco e Art Deco. Na malha urbana destaca-se o centro histórico, que forma um circulo delimitado pelos vestígios das antigas muralhas. Aqui cruzam-se becos e artérias maiores viradas para o rio Lima, e destacam-se a antiga Igreja Matriz, que remonta ao séc. XV, a Capela da Misericórdia (séc. XVI), a Capela das Almas, e o edifício da antiga Câmara Municipal, na Praça da Monarquia (antiga Praça da Rainha), com uma fonte em granito do séc. XVI."
Para além deste Património arquitectónico no pequeno núcleo citadino vislumbram-se casas típicas dessas épocas e com as características e ornamentos aos estilos atrás mencionados.
Dessas casas aparecem pedras de armas afixadas nas fachadas, sendo distribuídas por casas tradicionais, por casas nobres e apalaçadas, cujas personagens justificaram a mercê dada pelo seu rei, quer por actos em prol do País, quer em prol da benemerência e interesses locais ou por razões politicas.
No pequeno núcleo histórico circunscrito entre a linha férrea e o rio Lima e por pequenos passeios pedonais realizados pessoalmente pelo seu interior se destacaram e se recolheram um bom punhado de Brasões, de Heráldica de Família, que se pretende abordar e mostrar neste blogue.
Dos 27 brasões referenciados no mapa, alguns não foram encontrados neste pequeno passeio efectuado em dia e meio, de uma pequena estada naquela linda cidade.  A recolha mereceu também em buscas de sites locais que me ajudaram a enriquecer este projecto de inventariação de brasões de família no núcleo antigo desta cidade.
Provavelmente haverá ainda outros por descobrir nessas pequenas vielas e ruas, e encobertas em muitas casas que apresentam características muito especiais, à sua época a que cada uma delas terá sido edificada. Vislumbramos, portas e janelas lindamente executadas em granito, do barroco ao manuelino, muitas casas ainda sustentam nos seus beirais gárgulas de todos os feitios e igualmente outras pedras de armas, nacionais e da cidade.
À medida que se apresenta cada peça de armas, e sempre que possível, será abordada a descrição da pedra de armas e de uma pequena história, da casa ou da família, efectuada pela recolha na internet e especialmente no blogue "olharvianadocastelo.blogspot" e da obra "Casas de Viana Antiga" que merecem uma especial atenção e um elogio de relevo por se dedicarem exclusivamente ao concelho e à cidade.

Esquema geral da localização das Pedras de Armas de Família - Viana do Castelo

Listagem:
1 - Casa dos Monfalim (séc. XVII/XVIII) - Gaveto do Passeio das Mordomas da Romaria com a Rua Nova de Santana
2 - Casa da Barrosa (séc. XVIII) - Rua Manuel Espregueira, n.º 87
3 - Casa dos Abreu Coutinho (séc. XVIII (?)) - Largo Vasco da Gama
4 - Casa dos Melo e Alvim (séc. XVI) - Av. Conde da Carreira
5 - Capela da Casa da Carreira (séc. XVIII) - Rua dos Bombeiros
6 - Casa dos Werneck (séc. XIX) - Av. Conde da Carreira, n.º 6
7 - Casa dos Pimenta da Gama ou Casa da Piedade (séc. XVIII) - Rua Mateus Barbosa, n.º 44
8 - Casa do Campo da Feira (séc. XVIII) - Largo 5 de Outubro, n.º 64
9 - Casa dos Sousa Meneses - Rua Manuel Espregueira, n.º 212
10 - Casa da Vedoria (séc. XVII) - Rua Manuel Espregueira, n.º 152
11 - Casa da Carreira (séc. XVI) - Passeio das Mordomas da Romaria
12 - Casa Costa Barros (séc. XVI) - Rua S. Pedro, n.º 28
13 - Casa dos Aranha Barbosa - Rua da Bandeira, n.º 174
14 - Casa Barbosa Maciel (séc. XVIII) - Largo S. Domingos
15 - Casa dos Malheiro Reymão (séc. XVIII) - Rua Gago Coutinho e Praça das Couves
16 - Palácio dos Cunhas (séc. XVIII) - Rua da Bandeira
17 - Casa do Pátio da Morte - Rua da Bandeira, n.º 203
18 - Casa dos Pita (séc. XVII) - Rua Prior do Crato, n.º 56
19 - Hospital Velho (séc. XV) - Rua do Hospital Velho
20 - Casa dos Torrados - Av. Luis de Camões, n.º 19
21 - Casa dos Sá Sottomaior - Praça da Republica, n.º 42
22 - Casa dos Agorretas - Gaveto da Rua dos Rubins com Rua Manuel Espregueira
23 - (família desconhecida) - Travessa da Victória, n.º 8
24 - Casa de João Velho ou Casa dos Arcos - Largo do Instituto Histórico do Minho
25 - Casa dos Medalhões, gaveto da Rua do Poço com Largo da Matriz
26 - Casa do Alpuím, Passeio das Mordomas da Romaria
27 - Casa dos Pereira Cirne - Rua da Bandeira, n.º 219
28 - Casa dos Boto e Calheiros - Rua da Bandeira, n.º 124 

fontes retiradas de:
- olharvianadocastelo.blogspot.com
- www.monumentos.gov.pt
- http://juntamonserrate.webnode.pt

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