NOTA: A quem consulte e aprecie este blogue e possa contribuir com comentários, críticas ou correcções têm a minha consideração.
Aqueles que por seu entendimento, possam ser proprietários de alguns elementos fotográficos, e pretendam a retirada dessa foto, agradeço que me seja comunicada para evitar constrangimentos pessoais.

Obrigado.

15 de fevereiro de 2021

Brasão dos Ferreira, Ribeiro, Dias e Sampaio, Porto


 Ferreira, Ribeiro, Dias e Sampaio



Foto pessoal, recolhida no Museu Soares dos Reis

Esta pedra de armas provém de uma casa junto à capela de Stº. António do Penedo, na antiga rua de Stº. António do Penedo, atual Largo 1º de dezembro, no Porto.

Não se encontram dados históricos e encontra-se recolhida no Museu Soares dos Reis, provavelmente de demolição da referida casa.

A Pedra de Armas tem a seguinte descrição:

Material - Granito

Época - Decadência/Séc. XVIII

Estilo - Barroco

Família - desconhecida

Classificação - Heráldica de Família

Escudo - de fantasia

Formato - Esquartelado

Leitura - I - Ferreira / II - Ribeiro / III - Dias / IV - Sampaio

Cores -

        I - de vermelho, com quatro faixas de ouro;

       II - esquartelado, I e IV de ouro, com três palas de vermelho; II e III de negro, com três faixas de columbreadas de prata e de vermelho;

        III - de azul, com uma estrela de ouro, com dez raios;

        IV - esquartelado, I e IV de ouro, uma águia estendida de púrpura, lampassada de vermelho; II e III xadrezado de ouro e negro de sete peças de faixa e oito de pala, bordadura de vermelho, carregado de oito "S" de prata;


Nota final:

Qualquer informação sobre esta pedra de armas ficarei grato de me se comunicado.




7 de fevereiro de 2021

Brasão dos Portocarrero - Porto

 



Brasão dos Portocarre(i)ro

 

Portocarrero - Uma das famílias mais antigas de Portugal tem origem na Galiza (há quem defenda que as suas origens provêm das Asturias), através do fidalgo Raimundo Garcia, que acompanhou o séquito do Conde D. Henrique que no início do séc. XII (entre os anos de 1129 e 1153) entrou no território do Condado Portucalense.

Pelo seu apoio, D. Henrique doou-lhe o couto de Portocarrero, no Marco de Canaveses. Foi deste extenso senhorio que D. Raimundo tomou o nome de Portocarrero ou Portocarreiro.

D. Raimundo Garcia de Portocarrero aparece em inúmeras documentações a confirmar pelos muitos documentos régios, sendo clara a sua importância enquanto apoiante do governante.

Esta família vai, depois, espalhar-se um pouco por todo o território nacional, do Minho até Tomar, encontrando-se ainda hoje muito património desta nobre e antiga linhagem.

Exemplos deste património e de grande relevância local são os casos do Solar da Bandeirinha, em Melres, Gondomar, a Casa do Terreiro, em Arcos de Valdevez, e a Casa da Sereia, no Porto, entre muitas outras.

O Solar da Bandeirinha, em Melres e tomou o mesmo nome da sua casa no Porto, foi iniciada a sua construção por Manuel da Cunha Coutinho Portocarrero (1550-1645) e concluída pelo seu filho com o mesmo nome (1607-1691). Foi pertença da família até ao primeiro quartel do séc. XX, sendo hoje propriedade e sede da União das Freguesias de Melres e Medas, do concelho de Gondomar.

Já a Casa do Terreiro, é uma enorme mansão de meados de séc. XVIII, localizada na freguesia de Salvador, em Arcos de Valdevez, tendo sido vendida no séc. XX à Câmara Municipal e transformada em Casa das Artes.

O Solar das Sereias ou da Bandeirinha, no Porto, para além da sua localização privilegiada pelas suas excecionais vistas para o rio Douro e Gaia, seria a casa principal da família aquando da sua estada nesta cidade.  

Do Condado Portucalense até às invasões francesas esta família deixou marcas um pouco por todo o País, incluindo na cidade do Porto.

Foto pessoal da entrada principal da casa

História:

No séc. XVI, o fidalgo D. Pedro da Cunha, senhor da Maia, manda construir uma casa na zona onde havia estado uma judiaria, ao fundo da Rua da Bandeirinha, antigo Monte dos Judeus. Após a sua morte, sua esposa, Dona Brites de Vilhena, deu continuidade a uma promessa com a fundação do Convento de Monchique.

No séc. XVIII, ainda residiam elementos da família Cunha e Vilhena e que mais tarde passou para a família Portocarrero, devido às ligações entre as duas famílias.

Durante o séc. XVIII, a casa terá sido reformulada com uma dimensão mais grandiosa, cujo nome tomou de Palácio ou Casa das Sereias, de grande imponência pela sua dimensão que se distingue na paisagem da cidade.


Fotos pessoais do pormenor de uma das sereias

Também conhecida pela população como as “mamudas”, devido às duas exóticas sereias que ladeiam o portal. É igualmente conhecida pelo nome da rua onde se localiza, Casa da Bandeirinha, pois é nesta rua que se situa a “Bandeirinha da Saúde” sobre uma pirâmide de granito onde era acionada para permitir o desembarque das naus que entravam no Porto, após inspeção médica da tripulação para se certificar que não traziam a bordo pessoas com doenças infeciosas e que servia de sinalizador como ponto de atracagem em caso de doenças ou peste, condicionando-os a um período de quarentena.

Foto pessoal da pirâmide em granito da Bandeirinha da Saúde

A casa foi construída para ser o palácio dos Portocarrero, iniciada por Manuel da Cunha Coutinho de Portocarrero, 17º Senhor da Torre de Portocarrero e Honra de Portocarreiro, em Vila Boa de Quires, 9º Senhor de Valbom, 5º Morgado de Melres, Senhor do Paço de Valpedre, em Penafiel e da casa de Pombal, foi Fidalgo Cavaleiro da Casa Real, Cavaleiro da Ordem de Cristo.

Casou em 1683, na igreja matriz de Melres, com D. Maria Luiza Coutinho Correa Botelho de Alarcão e Albuquerque, herdeira da Casa de Travanca, em Lamego.

Em 1689, restaurou sua casa em Melres, concelho de Gondomar, e adotou o mesmo nome da sua casa no Porto. 

Nela terá nascido seu filho João da Cunha Coutinho Osório de Portocarrero (n - 9/10/1689 – f - 14/01/1761), que terá concluído o restauro do Palácio das Sereias ainda antes de 1735.

Palavras do “povo” afirmam que a implantação da casa ter sido num local que serviu de cemitério dos judeus associam infortúnio aos residentes.

Por esta razão atribui-se alguns episódios trágicos na família, como narram que um dos proprietários terá morrido num acidente de barco no Rio Douro, passando o palácio para a posse de seu irmão, por não ter tido filhos.

Sobre este episódio, Germano Silva narra no jornal Opinião, no ano de 2005, com suas palavras a histórica e os contos deste episódio:

" A história é a seguinte: nos finais do século XVIII habitava a casa, João da Cunha Osório Portocarrero, morgado de Melres, uma povoação nas margens do rio Douro, no concelho de Gondomar. Certa ocasião, descendo o morgado de Melres o rio, numa pequena embarcação, esta voltou-se numa curva do Douro e o fidalgo morreu afogado. Como era solteiro, o herdeiro legitimo de todos os bens do morgado de Melres, segundo a lei dos morgadios, então vigente, era o seu irmão que vivia com algumas dificuldades por não ter bens de raiz nem oficio rendoso. E é aqui que entra a tal anedota. Dizia-se que alguns criados da casa contavam a quem os quisesse ouvir, que o novo fidalgo quando assomava à varanda principal do seu palácio, ao contemplar as águas calmas do rio Douro murmurava, de si para si: "ai rio, rio, que mataste a sede a meu irmão; e a mim a fome e o frio...""

A 22 de março de 1809, pertencia a esta família o tenente-coronel do regimento de Infantaria 6, João da Cunha Araújo Portocarrero, que nas vésperas da segunda invasão francesa, uma multidão enfurecida assassinou, junto do Padrão das Almas, actual Largo do Padrão, por suspeita que fosse afrancesado bem como de outras figuras relevantes da cidade.

Estas mortes de forma trágica decorrentes deste episódio levaram ao abandono do Palácio, por parte da família, e que desde esse acontecimento nunca mais lá voltaram.

Assim se manteve abandonado até 1955, em que foi adquirido pelo Instituto das Filhas da Caridades, uma ordem religiosa feminina, onde instalaram um colégio “Casa Madalena Canossa”, que reúne missionárias de diferentes nacionalidades e se dedicam ao ensino e apoio dos desfavorecidos, com creche e ATL.

Fotos retirada do site: gisaweb.cm-porto.pt

O Brasão

Material – Granito

Época – Renascença / Séc. XVIII

Estilo/Escola – Barroco / Influência Italiana

Descrição – Encontra-se sobre a porta de entrada

Classificação – Heráldica de Família

Escudo – de fantasia

Leitura –

         I – Portocarre(i)ro

         II – Osório

         III – Cunha

         IV – Coutinho

Timbre – não tem

Coronel – Duque ou Ducal

Cores –

         I – enxaquetado de ouro e azul de três peças em faixa de cinco em pala;

II – de ouro, com dois lobos passantes e sotopostos (um sobre o outro), d vermelho;

         III – de ouro, com nove cunhas de azul;

         IV – de ouro, com cinco estrelas com ponta, de vermelho;

Imagem retirada do site: www.heyporto.com

Fotos retirada do site: gisaweb.cm-porto.pt

Fotos retirada do site: gisaweb.cm-porto.pt

A casa:

Localizada num gaveto da Rua da Bandeirinha, no local do antigo cemitério dos Judeus e da antiga judiaria, inserida no seu alto e adossada à encosta, numa plataforma elevada sobre Miragaia e a Alfândega, cujo alargamento do arruamento que a recebe se transforma num miradouro e varanda sobre o rio e vista de Gaia.

De planta retangular alongada e de construção tradicional, é constituída por três pisos, de arquitetura simples, excetuando a fachada principal, orientada a sul, simétrica e magnificentemente esculpida, sendo dividida em três partes, separadas por pilastras, bem como os seus extremos da frontaria que simulam torreões coroados de ameias delimitadas por pilastra que sobem do piso térreo até ao cimo.

As pilastras nos seus cunhais e nos alinhamentos dos áticos conferem-lhe imponência e verticalidade. A parte central é constituída, no piso térreo por um sumptuoso portal de granito encimado por um frontão circular onde se encaixa a pedra de armas dos Portocarrros.

Foto pessoal das 2 janelas sobre o portal

O portal de entrada está inserido entre duas sereias em granito, tipo “cariátides”, é encimado no andar intermédio por duas elegantes janelas ornamentadas com balaústres de pedra. O andar nobre tem uma janela de sacada decorada com motivos rococó, com varanda e balaustres em granito apoiada em três mísulas de cantaria lavrada.

Nas partes laterais do seu corpo principal e nas outras empenas correspondentes aos torreões, a fachada apresenta várias séries de janelas, à exceção das do último andar, que possuem decoração de voluta, rematadas por conchas a substituir os frontões.

A fachada lateral oeste está no enfiamento da rua do Monte dos Judeus e está flanqueada por altos muros de suporte em granito.

Os seus revestimentos eram os tradicionais para a época, com alvenarias rebocadas pelos lados interiores e exteriores, os pavimentos revestidos a soalho de madeira e também com lajeados de granito.

Os seus tectos eram trabalhados e pintados, tendo sido alterados aquando da posse por parte da ordem missisonária das religiosas canossianas.

As coberturas articuladas em telhado de quatro águas, em estrutura de madeira revestida a telha e as caixilharias e portas em madeira pintada.

Fotos retirada do site: gisaweb.cm-porto.pt

O pátio, a tardoz, em lajeado de granito, contem um acesso pelo mesmo arruamento através de outro portal encimado por uma pedra de armas dos Portocarreiro, em ouro, bilhetado de azul de sete peças e uma bordadura composta de Castela e Leão de oito peças. Esta peça está coroada com um coronel de nobreza desproporcionado ao seu escudo.

Fotos pessoais da entrada das traseiras com portal encimado de PdA

Esta casa sofreu intervenções, após a aquisição das religiosas canossianas, com a construção de refeitório e garagem, anexas à casa, nos anos 60/70. Do corpo destinado ao dormitório das irmãs na quinta anexa.

Nos anos 80, foi acrescentada pelo infantário, de conceção do arquitº. Camilo Cortesão.


Informação retirada de:

- Brasões e Pedras de Armas do Porto, Manuel Cunha
- www.gisaweb.cm-proto.pt
ww.heyporto.com
- www.visitar.portugal.pt
- www.portoxxi.com
- www.cm-gondomar.pt
- www.facebook.com/groups/portolindodemorrer
- www.facebook.comportoalacarte
- jornal Opinião - Histórias Portuenses, Germano Silva, 12/2/2005
- www.jpn.up.pt
- www. monumentos.gov.pt






15 de novembro de 2020

Palacete dos Leite Pereira - Porto

                                                              

Os Leite Pereira


Foto pessoal da Pedra de Armas

Arquivo Histórico Municipal do Porto - Foto de Bomfim Barreiros

Esta pedra de armas encontra-se aplicada sobre a porta de entrada do edifício secular, situado na rua das Taipas, n.º 74, no Porto.

Arquivo Histórico Municipal do Porto - Foto de Bomfim Barreiros 1943

Descrição da Pedra 

Brasão do século XVIII

Material - Granito

Classificação - Heráldica de Família

Escudo - Oval

Formato - Pleno ou Simples

Leitura - I - Leite (Leite Pereira, do Porto)

Timbre - uma cruz de vermelho, entre duas flores-de-lis, verde

Elmo - de perfil, com paquife

Cores - 

I - esquartelado, 1º e 3º de Leite, de verde, com três flores-de-lis de ouro postas em roquete; 2º e 4º de Pereira, de vermelho, uma cruz de prata, flordelizada e vazia;


Pequenas Histórias da casa

O nome desta rua era inicialmente chamada de rua dos Olivais e foi alterada, no ano de 1486, devido ao surto de epidemia de peste ocorrida naquela época e naquele arruamento, que por motivos de saúde foi totalmente entaipada, passando a designar-se de rua das Taipas.

Nos finais do séc. XVII esta propriedade era pertença de Francisco Juzarte Maldonado, Correio-mor de Coimbra. Nos princípios do séc. XVIII sofreu um incêndio tendo sofrido obras de reconstrução e sido vendida a Maria Leite Pereira de Melo.

Pertenceu a Pedro da Silva da Fonseca de Cerveira Leite e Bourbon e posteriormente a seus familiares, tendo sido casado com Dona Mariana da Silva Freitas de Meneses Cirne de Sousa, ultima proprietária do edifício situado no ângulo da rua da Fábrica com a travessa de mesmo nome, conhecida pela Casa da Fábrica.

Este brasão tem a correspondência com o brasão da Quinta de Ramalde e que se associa a esta família.

Foto pessoal da Porta de Entrada

Arquivo Histórico Municipal do Porto - Foto de Bomfim Barreiros 1933

Trata-se um de edifício nobre, de planta retangular com 4 pisos, tendo em conta o enorme declive do arruamento, está constituída por rés do chão e mais 3 níveis de pisos. A fachada é rebocada, caiada e pintada, encontrando-se em completa degradação e ruina.

Está datada em vários períodos temporais, séc. XVII, XVIII e XIX, tendo sofrido alterações ao longo destes períodos de tempo, incluindo a aplicação da pedra de armas sobre a porta de entrada pelo então representante da família Leite Pereira.

Após o abandono da casa de família aquele edifício foi ocupado com várias funções, isto é, pelo Clube Inglês que mais tarde se transferiu para a rua das Virtudes, n.º 11, ali bem perto, foi igualmente ocupada por uma empresa "Figueira, Lda.", confirmada por documentos de arquivo, para construção de várias estufas para armazenamento de bananas, e espaço de arquivo. Posteriormente terá sido ocupada pela Drogaria Pinheiro & Oliveira.

Foto pessoal da Fachada Principal (actualidade)

Foto pessoal da Fachada Principal (actualidade)

Arquivo Histórico Municipal do Porto - Vista conjunta do Palacete e atrás do antigo  Palacete de Brito e Cunha 
Ano de 1961 - Teófilo Rego

Arquivo Histórico Municipal do Porto - Vista conjunta do Palacete e atrás do antigo  Palacete de Brito e Cunha 
Ano de 1962 

Arquivo Histórico Municipal do Porto - Vista de tecto interior aquando do Clube Inglês (anos 50)

Arquivo Histórico Municipal do Porto - Drogaria Pinheiro & Oliveira (anos 1940)


Fotos e informação retiradas de:

- Brasões e Pedras de Armas do Porto, Manuel Cunha

- monumentosdesaparecidos.blogspot.com

- Arquivo Histórico Municipal do Porto

- gisaweb.cm-porto.pt



11 de novembro de 2020

Brasão dos Barroso Pereira, Porto

 

Os Barroso Pereira

Foto retirada do Arquivo Municipal do Porto

Esta pedra de armas situava-se no largo Guilherme Gomes Fernandes na freguesia da Vitória, na cidade do Porto. Estava aplicada numa fachada cujo edifício apalaçado já não se encontra no local original desde os anos 60, do século passado, pois a casa onde se inseria foi demolida para dar lugar a um prédio moderno (à época) e onde se encontrava há poucos anos a Livraria do Estado.

Fachada da Casa - Foto retirada de https://www.facebook.com/PortoDesaparecido


Neste palacete esteve instalada uma das mais célebres casas de fotografia da cidade do Porto, a União e lá funcionaram vários escritórios e comércio de serviços, e especialmente de um consultório, do primeiro radiologista do Porto, Prof. Roberto de Carvalho, e que foi visita frequente de Almeida Garrett na sua actividade diária. 


Vista da estátua, palacete e "ferro de engomar" - ano de 1914

Foto retirada de https://www.facebook.com/PortoDesaparecido


A casa destaca-se ao fundo da foto, atrás de um busto do bombeiro Guilherme Gomes Fernandes, instalado na praça ou largo que tomou o seu nome e que conjuntamente com o edifício contíguo e muito esguio, também conhecido por "ferro de engomar", e que deram a um inestético prédio de gaveto entre a rua de D. Carlos (atual rua José falcão) e o largo, transformando-o para construção habitacional.

Já anteriormente, esta praça possuiu vários nomes e que se foram alterando ao longo do tempo e adequadas em função das actividades que lá se manifestaram, como Via Sacra, praça da Farinha, do Pão ou da Feira do Pão e também praça de Santa Teresa.

 

Feira - Foto retirada de https://www.facebook.com/PortoDesaparecido

Descrição da Pedra 

Brasão do século XVIII

Material - Granito

Classificação - Heráldica de Família

Escudo - Fantasia

Formato - Partido

Leitura - I - Pereira e II - Barroso

Timbre - de Barroso, um leão

Elmo - de lado, sem paquife

Cores - 

I - Pereira, de vermelho, com uma cruz de prata florenciada e vazia do campo;

II - Barroso, de vermelho, com cinco leões de púrpura, armados e lampassados de ouro, cada um carregado de três faixas de mesmo, postos em sautor;


Texto de Eugénio de Andrea da Cunha e Freitas

"em Notícias do Velho Porto, VI - A casa dos Barrosos Pereiras a Santa Teresa", pág.195-197

" No antigo Largo de Santa Teresa, hoje baptizada em Praça de Guilhermo Gomes Fernandes, esquinando para a Rua José Falcão, existe ainda uma grande casa nobre setecentista, de que o risco tem sido atribuído a Nicolau Nasoni, o notável arquitecto italiano, que durante largas décadas enriqueceu a cidade com a sua arte.

A casa deve ter sido edificada na segunda metade do século XVIII pelo Desembargador António Barroso Pereira e por sua mulher, D. Maria Inácia da Costa Sampaio, ou por seu filho o Dr. José Barroso Pereira, casado com D. Rita Josefa Piceluga, da família lisboeta deste apelido, originária de Itália.

Na posse dela sucedeu um filho destes, António Maria Barroso Pereira, fidalgo da Casa Real, casado com D. Maria José Bravo Cardoso Torres Correia Pereira de Lacerda, filha do Desembargador Rodrigo Bravo Cardoso Torres e mulher, D. Maria Máxima de Moura e Castro.

Família de magistrados, certamente abastada, de representação social - vislumbra-se, por entre o laconismo dos documentos, uma velha família da pequena nobreza, no Portugal antigo -, estes Barrosos Pereiras tinham ali a sua residência citadina; e mandara, colocar sobre o portal de entrada as suas armas: um escudo partido de Pereiras e Barrosos, com o seu elmo e seu timbre, tudo a gosto da época.

Meado o século passado, ainda a casa estava na posse desta gente.

O primeiro a favor de quem foi registada na respectiva Conservatória do Registo Predial era Rodrigo Bravo Barroso Torres, filho dos mencionados António Maria e  D. Maria José, que nascera em S. Miguel de Matos, no antigo concelho de Bem-viver (hoje incorporado no de Marco de Canaveses) e foi casado com Guilhermina Júlia de Sousa Bravo, filha de Albino Pereira de Sousa Pederneira e de sua mulher, D. Gertrudes Magna da Cunha Bessa, da Casa de Covelas, em Rio de Moinhos (Penafiel).

Foram estes proprietários que, por escritura de 21 de Maio de 1874, venderam a casa familiar do Largo de Santa Teresa, a António José Soares, negociante, da Ruas das Oliveiras.

Em 1898 era dona do prédio D. Maria Augusta Sampaio de Brito, casada dois anos depois com Manuel Guilherme Alves Machado.

E este, em 1956, doo-a a sua filha D. Delminda Sampaio Machado e a seu genro, o Dr. Francisco da Cunha Freitas Mourão de Sotomaior.

Destinada, de há muito, a instalações comerciais, consultórios médicos, e outros fins de rendimento, a casa não perdei ainda, ao menos exteriormente, a fachada principal, o seu ar de nobreza setecentista, e é um dos curiosos exemplares da arquitectura civil da época, acrescentado para mais o seu valor pela provável paternidade nasoniana.

Diz-se que vai brevemente desaparecer, para nos seus chãos se edificar um desses grandes, horríveis, rendosos galinheiros, que estão manchando e desvirtuando o carácter tão portuense, da arquitectura da cidade.

Esperamos que as entidades responsáveis pelo nosso património artístico, já tão escasso, não deixem cometer mais esse feio pecado. Pecado feio e inútil... salvo para os que se propõem usufruir dos correlativos benefícios financeiros."

Curiosidade:

Sem qualquer certeza, embora com uma proximidade relativa, o brasão existente na Quinta do Meilão, em Águas Santas deverá ter alguma correlação com os proprietários deste prédio, por ter a mesma representação, isto é:

A quinta em questão está designada de Quinta do Meilão e o seu nome é pouco ortodoxo e quase inexistente na língua portuguesa. O nome deverá ter advindo da Dona Inácia Joana Meilão Pereira, de origens da Galiza, que era casada com o Desembargador João Barroso Pereira, avós de António Barroso Pereira. Se o nome estiver de facto associado, a ligação desta casa à quinta é inevitável.

Ficará para outras descobertas, pois falta a sua comprovação.


Fotos e informação retiradas de:

- Brasões e Pedras de Armas do Porto, Manuel Cunha

- monumentosdesaparecidos.blogspot.com

- www.facebook.com.livroportodesaparecido

- aportanobre.blogs.sapo.pt

- O Tripeiro, série VI, Ano II, p. 3644






 

 

 

 

17 de maio de 2020

Victorino Coelho Pereira


Victorino Coelho Pereira, Torna-Viagem de Baltar
Manuel Cunha, Eng. Civil
Palavra-chave: Coelho Pereira; Torna-viagem; Baltar

A designação toponímica assume particular importância na preservação da memória e identidade de um povo. Permite perpetuar nomes, factos e eventos, dando a conhecer a evolução histórica dos lugares e respetivas populações, para além de facilitar a localização geográfica. Essa designação, por vezes, advêm dos nomes de famílias locais.
No presente caso, o lugar da “Pereira”, em Baltar, teve esse pressuposto. Com o passar do tempo, este lugar foi absorvido pelo lugar da Gralheira.
No séc. XVIII, a existência deste lugar provinha da família que lá residia, a família “Pereira”. Por herança, a casa-mãe terá ficado para o filho mais velho, Manoel Coelho Pereira, que casou (já em idade tardia) com Maria Thomázia (17 anos mais nova). Desta união, nasceram 14 filhos, sobrevivendo 13 deles. Todos nasceram nesta casa centenária. A data da mesma encontra-se inscrita  na porta de entrada - 1735, a qual, provavelmente, se refere à data de ampliação e/ou restauro. Os antepassados de Manuel Coelho Pereira terão nascido nesta casa anteriormente a esta data.
Sobre este apelido e sobre um dos filhos desta família, Victorino Coelho Pereira, se fará uma breve abordagem da sua marca na terra de Baltar e do seu período de emigração pelo Brasil.
A mãe, Maria Thomázia Coelho Barbosa, com a sua diferença de idade em relação ao pai e com maior energia e jovialidade, terá dado um forte impulso na educação dos filhos. Os rapazes foram para a cidade do Porto como aprendizes em lojas comerciais. Este contato com a cidade deu a Maria Thomázia a visão de que estaria ali o futuro dos seus rapazes (ainda de tenra idade) e, mais tarde, encorajou-os a emigrarem para o “eldorado” brasileiro - prática e destino corrente da época. 

A descendência de Manoel Coelho Pereira e Maria Thomásia Coelho Barbosa reflete-se no intervalo de tempo entre o 1º nascimento e o ultimo irmão vivo, cerca de 20 anos entre si e que resultaram nos 13 filhos sobrevivos:
          António Joaquim Coelho Pereira (n - 1832 / f - 1913)
          Manoel Joaquim Coelho Pereira (n - 1836 / f - 1914)
          António Coelho Pereira (n - 1838 / f - ?)
          Belmiro Coelho Pereira (n - 1839 / f - 1911)
          José António Coelho Pereira (n - 1840 / f - 1909)
          Lino Coelho Pereira (n - 1842 / f - 1891)
          Firmino Coelho Pereira (n - 1843 / f - 1916)
          Maria Rita Coelho Pereira (n - 1844 / f - 1931)
          Anna Maria Coelho Pereira (n - 1847 / f - 1910)
          Margarida Rita Coelho Pereira (n - 1848 / f - ?)
          David Coelho Pereira (n - 1849 / f - 1920)
          Victorino Coelho Pereira (n - 1851 / f - 1922)
          Cecília dos Santos Coelho Pereira (n - 1852 / f - 1941)
          Emília da Concepção Coelho Pereira (n - 1854 / f – 1855)
Dos 9 rapazes desta família, pelo menos 5 emigraram para o Brasil. Ainda existe muita informação obscura e desconhecida, que não permite retirar conclusões de todo o processo das suas vidas pessoais. As informações apenas são conhecidas pelo espólio documental do irmão mais novo, Victorino, e por outros documentos dispersos. 

Victorino nasceu a 29/1/1851 e manteve-se solteiro até à sua morte a 3/2/1922. Foi o último dos filhos - com 13 anos - a emigrar para junto de seus irmãos mais velhos.
Iniciou-se como “marçano” na loja de seu irmão Manoel Joaquim, no Porto. Com a ida para o Brasil, terá continuado a ser aprendiz, até se inserir na sociedade de seus irmãos, Belmiro e Firmino, a qual tinha como sócio Valentim, sendo designada originalmente de “Pereira & Valentim e Cª.”.
Esta empresa, ao longo do tempo, serviu de entreposto com entradas e saídas de novos sócios, cujas quotas vendiam aos familiares, então chegados de Portugal. A sua designação alterava-se em função dos seus apelidos, como se comprova pela imagem apresentada de “Pereira, Fernandes e Cª. – Comércio de Fazendas e Roupas por Atacado”. 

A empresa estava localizada num prédio de 12 entradas, no gaveto da rua do Mercado e a do Ouvidor, no centro das maiores artérias da época do Rio de Janeiro.
Victorino, em poucos anos, terá criado uma fortuna de grande dimensão. Cedo entendeu regressar a Portugal - 44 anos de idade. O legado patrimonial manteve -se aquando do seu regresso a Baltar, local escolhido para a sua residência. 

Em 1895, regressou em definitivo com uma enorme fortuna. Tinha previsto regressar antes, mas tinha negócios que se encontravam por concluir.

Após a sua chegada, fez um passeio pela Europa e findo o mesmo remeteu-se à sua casa, em Baltar, que tinha comprado à sua sobrinha, filha de Lino, entretanto falecido.
Esta casa situa-se à face da estrada principal, em frente a outras duas casas dos seus irmãos, Belmiro e Firmino (uma encontra-se degradada e outra foi demolida).
No Verão, Vitorino passava alguns dias nas termas do Gerês ou de São Vicente, em Entre-os-Rios. Para esta última acompanhavam-no algumas sobrinhas e uns primos órfãos de um familiar falecido no Brasil, Por variadas vezes, apareciam-lhe outros familiares para pedidos de favores pessoais, como era frequente este tipo de pedidos desde que se estabeleceu em Baltar. 
Em regra cedia a essas solicitações, devido à sua bondade e boa vontade, qualidades reconhecidas por todos.
A sua vivência em Baltar, permitiu-lhe manter-se próximo de seus pais e irmãs e estar em contato permanente com seus irmãos e sobrinhos mais distantes, através de correspondência continua quer para o Porto quer para o Brasil.
Na sua casa, tinha permanentemente a presença de familiares. Como companhia assídua e permanente tinha a filha da sua irmã mais nova, de nome Rosário, uma das sobrinhas, de quem era padrinho.
Mesmo perante ela, tinha uma atitude de vigor e firmeza nas suas ações diárias, no sentido de manter uma educação austera, que se impunha naquela época.
O seu rigor e minúcia, permitiu-lhe manter todos os seus negócios no Brasil. Estes foram controlados à distância através de troca de correspondência muito cuidadosa e elaborada, e guardada, religiosamente, conforme se comprova pela documentação.
Tudo fez para proteger a sua família e satisfazer a maior parte dos pedidos de ajuda que lhe eram permanentemente solicitados. Mas, devido à sua personalidade integra e muito própria, nem sempre acedia aos apelos que lhe eram feitos. Merece realce o grande pormenor e rigor na organização dos registos de  todos os empréstimos e respetivos pagamentos.
Como prova da dimensão dos seus bens, em Baltar, tinha permanentemente ao seu serviço um conjunto de pessoas: pedreiros, carpinteiros e trabalhadores agrícolas, que comiam diariamente na grande cozinha de sua casa.
Aquando da sua morte e, por ser solteiro, os seus bens contemplavam uma tão vasta quantidade de património, não só em Portugal como no Brasil, bem como em papel financeiro. A sua herança gerou um conflito entre duas fações de familiares, cujos trâmites em tribunal perduraram cerca de 20 anos e ficou conhecida, na época, - “Questão de Baltar”.
A guerra jurídica prevaleceu para o lado dos familiares herdeiros no testamento, em prejuízo dos familiares que nada herdavam e que entendiam ter o mesmo direito. Esta “Questão” só terminou em decisão na última instância, no Supremo.
Do seu testamento resultou que, a sua fortuna seria distribuída por mais de 120 pessoas e instituições. Resumidamente, pode-se mencionar as seguintes instituições listadas:
- na cidade do Rio de Janeiro: a Sociedade Portuguesa de Beneficência, a Ordem Terceira de S. Francisco, o Gabinete Português de Leitura e a Caixa de Socorro D. Pedro V;
- em Portugal, a Creche da Santa Marinha, em V. N. Gaia e no Porto: Santa Casa da Misericórdia, Asilo da Ordem do Terço, Asilo de S. João, Asilo das Velhinhas e Asilo dos Velhinhos, Asilo Barão Nova Sintra, Irmãzinhas Pobres, Oficina de S. José, Creche do Comércio do Porto, Creche da Infância Desvalida, Pobres Protegidos do Comércio do Porto, Casa de Caridade dos Surdos-Mudos, Presos da Cadeia da Relação do Porto; e no concelho, onde nasceu: Santa Casa da Misericórdia, Associação de Socorros Mútuos, Associação dos Bombeiros Voluntários e Presos da Cadeia de Paredes.
Todos os restantes bens foram primorosamente distribuídos pelos seus familiares e empregados pessoais, assim como, teve o cuidado em não desfazer quintas e parcelas, que mais se adequavam entre si a fim de evitar o fracionamento desses bens.
De todos os irmãos, Victorino, terá sido o maior impulsionador e apaixonado pela sua terra natal, ao deixar a distribuição futura dos seus bens de forma ponderada e criteriosa.
A generosidade e a correção das suas ideias eram evidentes, quer pela forma como era reconhecido por todos quer pela retidão das suas decisões.
Desta família seguiram os passos da emigração muitos outros sobrinhos, que se serviram da empresa inicial, Pereira e Valentim, para prosseguirem o caminho do enriquecimento.
Dos 5 filhos emigrantes de Manoel Coelho Pereira e Maria Thomásia Coelho Barbosa, 3 deles deixaram as marcas na sua terra natal através de terrenos agrícolas, montados, quintas e fundamentalmente das suas casas chamadas “brasileiras”, que marcam atualmente a Vila de Baltar.
Victorino, talvez, por ter vivido parte da sua vida em Baltar, foi o que teve mais cuidado na preservação dos seus bens, nomeadamente da sua casa, deixando a familiares de maior estima e consideração, conforme mencionado no seu testamento. 

Muita mais informação poderá ser divulgada pela muita documentação de Victorino, compilada em arquivo de sua casa e cujos atuais familiares a preservam.
Haja intenção futura na sua divulgação!

(artigo da Revista Orpheu nº. 2, Câmara Municipal de Paredes)