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9 de outubro de 2017

Casa do Pátio da Morte (17) - Viana do Castelo

foto retirada do blogue: olharvianadocastelo.blogspot.com


Descrição:

Brasão de Armas da Casa do Pátio da Morte, pertencente à família Rocha Vilarinho, em Viana do Castelo.
Constituído em granito e o seu formato é de Português ou boleado, com escudo esquartelado de I - Rocha; II - Peixoto; III - Cyrne; IV - Ribeiro.
Com elmo voltado à sinistra e sobre o mesmo, o Timbre de Rocha.

Esta casa encontra-se situada numa das ruas do centro da cidade com construções brasonadas sendo provavelmente das mais representativas e preponderantes dos séculos XVII, XVIII e XIX.
Apresenta com uma característica de edificado muito semelhante à casa em frente, também brasonada, a Casa dos Aranha Barbosa.

foto retirada do blogue: ppmbraga.blogspot.pt


Esta casa apresenta duas "acontecimentos" que merecem ser referidas, sendo uma delas conhecida por uma lenda sobre uma história de "amor" e também, conhecida por ter recolhido uma estátua de um guerreiro, milenar, e que merece ser descrita.
No primeiro caso apresento um texto recolhido de um site onde relata a famosa lenda e posteriomente um pouco da sua história sobra a peça milenar.

A Lenda:

"Era uma vez uma jovem de nome D. Brites, da família Quesado, ilustre pelos seus pergaminhos fidalgos.
Morava na vila de Viana, numa bonita casa alpendrada, que abria o pesado portão do vasto pátio para a rua da Bandeira, estreita e penumbrosa, com as lajes gastas, do rodar das carruagens e das ferraduras dos cavalos.
D. Brites era, além de jovem, muito formosa e muito rica. Vários fidalgos, como ela, e, como ela, jovens, belos e ricos, lhe cavalgavam sob o alpendre ornado de rosas, tentando atrair-lhe as atenções, candidatando-se, assim, ao seu amor.
Mas D. Brites amava já, e apenas, um moço cavaleiro, D. Lopo da Rocha, de bom porte e bons sentimentos, sempre pronto a desembainhar a espada pela honra e pela justiça.
Todavia, os pais preferiam, a D. Lopo, um parente, D. João Alvim, espadachim afamado e temido, soberbo do seu nome e dos seus haveres.
Também ele amava D. Brites, de uma paixão violenta e enciumada.
Mas D. Brites recusava-lhe os protestos amorosos, pois o seu coração pertencia já a D. Lopo.
Era costume, no dia do aniversário da filha única, os pais de D. Brites organizarem uma festa esplendorosa, nos salões da sua casa da rua da Bandeira. Nesse ano, excederam-se, em divertimentos, danças, concertos e no aparato de um  banquete copioso e requintado.
Eram muitos os convidados. Entre eles D. Lopo e D. João.
Mas os pais de D. Brites procuraram evitar, durante todo o serão, que a filha se encontrasse com o bem-amado, facilitando os galanteios do rival, colocando-o a seu lado na mesa, proporcionando-lhe a primazia das danças.
Em vão D. Brites, em vão D. Lopo, procuraram juntar-se, trocarem, ao menos, umas breves palavras de carinho. 
Noite alta, finda a festa, D. Brites, iludindo a vigilância paterna, achou meios de acompanhar D. Lopo ao alpendre, para mais uma promessa de amor eterno.
A Lua havia-se ocultado atrás de umas nuvens pesadas. Eram espessas as sombras. Na cúmplice escuridão, os dois enamorados estreitaram as mãos ardentes.
Então, D. Brites jurou a D. Lopo que jamais aceitaria outro esposo; que jamais o seu coração pulsaria por outro homem, em sua vida.
Beijou-lhe as mãos D. Lopo, e desceu, confiante, as escadas de pedra que o levavam ao pátio, com o peito a arfar-lhe de suprema ventura.
Em baixo, porém, foi surpreendido por um brado de raiva.
 D. João Alvim estava na sua frente, de espada em riste, disposto a separar, pelo sangue da morte, o par apaixonado.
E, sem permitir que D. Lopo tivesse tempo de empunhar, em sua defesa, a espada que lhe pendia do cinto, rasgou o peito do rival com uma estocada certeira.
Mas D. Lopo não morrera ainda e, num derradeiro esforço, conseguiu erguer-se, tomar, na mão, a firmeza da sua espada e varar D. João com uma estocada, igualmente certeira. Depois, tombou, desamparado, sobre as pedras do pátio, num último estertor.
Acudira D. Brites ao alpendre, ao ruído das armas. A Lua libertara-se do véu das nuvens e o luar desvendava, aos seus olhos aterrados, os corpos dos dois jovens que lhes disputavam o amor!
D. Brites rolou, desmaiada, pelas escadas do alpendre florido. E foi tombar, inerte, sobre o corpo ensanguentado de D. Lopo, a quem, momentos antes, havia prometido amor eterno.
A partir dessa noite, D. Brites vestiu de luto rigoroso, permanecendo solteira até ao fim dos seus dias.
A partir dessa noite, aquele pátio da rua vianesa da Bandeira passou a ser conhecido, pelas gentes do burgo, lamentando tal crueldade no amor, tal crime nefando que apartava dois corações puros e inocentes, como o Pátio da Morte."


A Estátua do Guerreiro:

"Existe em Viana do Castelo, no pátio duma casa da rua da Bandeira, denominado “o Pátio da Morte”, uma estátua de pedra, que tem dado que entender aos arqueólogos. A gravura dela pode ver-se nas Noticias archeologicas de Portugal, por E. Hübner, ou no livro do Sr. Figueiredo da Guerra, intitulado Viana do Castello.
O eminente epigrafista alemão, que examinou por si mesmo a estátua, assentou que a inscrição, que se vê gravada no saio, remonta, segundo se infere da forma dos seus caracteres, ao 1.º século da nossa era. Escapou-lhe porém que no escudo da estátua aparecem esculpidas as armas dos Rochas, e que a cabeça da figura está coberta por um capacete “de dupla viseira e gola” — o que nos distancia muito do 1.º século. Pondo em relevo estas duas particularidades, o sr. F. Guerra abraçou a opinião de que a estátua era relativamente moderna. Mas, para vingar esta afirmativa, força era destruir a autenticidade da inscrição, e isso é que ninguém conseguirá fazer. Em todo o caso, a estátua de Viana tornou-se uma espécie de Esfinge, e alguns curiosos houve que pretenderam decifrar-lhe os enigmas. O Sr. José Caldas, depois dum minucioso exame, chegou às seguintes conclusões: 1.º que as dúvidas quanto à autenticidade da inscrição não tinham fundamento; 2.º que a cabeça da estátua (cabeça postiça) nunca tinha nascido para o tronco, onde hoje estava presa por um espigão de ferro; 3.º que o brasão dos Rochas fora desasadamente gravado no escudo, deturpando-lhe a sua forma primitiva muito visivelmente.
Daqui nascia a veemente suspeita de que a estátua calaica fora transformada, importa pouco com que intenção, num representante da Casa dos Rochas. Pouco depois destas averiguações, e sem ter conhecimento delas, C. Castelo Branco colhia duns livros antigos e das notas marginais que os acompanhavam algumas notícias, que vieram lançar sobre a questão toda a luz que poderia desejar-se. Segundo estas notícias, o antigo solar dos Rochas fora em S. Paio de Meixedo, na quinta da Portela, perto da qual havia umas ruínas antiquíssimas. A estas ruínas pertencia sem dúvida a estátua, que, diga-se de passagem, e idêntica às duas de Montalegre, hoje na Ajuda, à de 5.to Ovídio (Fafe) e a outras mais, todas encontradas nas proximidades de estações arqueológicas. O abade Afonso da Rocha mandou abrir na estátua as armas da casa, sendo provável que também fosse ele quem fizesse ajustar na descabeçada figura a cabeça anacrónica que ela hoje possui.
Quando, muito depois do ano de 1622, os Rochas mudaram a sua residência para Viana, a estátua veio também, o que prova a veneração em que era tida, e não deixa a menor duvida de que ela era considerada como o representante dum dos mais ilustre antepassados da família. Como se estas curiosidades foram poucas e pequenas, aqui temos outra a estátua tinha uma lenda." 
"É tradição — diz o Sr. F. Guerra — que um antigo senhor daquela casa, Rocha, fora mortalmente ferido no ventre, quando entrava no pátio; mas, animoso, com o escudo segura as vísceras, e com a dextra prostra aos pés o inimigo, e que nesse lugar jaziam ambos.” Se a tradição não indicasse precisamente o pátio da rua da Bandeira como teatro da tragédia, poderia suspeitar-se-lhe algum fundamento histórico, remontando ao passado; mas como ela não tem escrúpulo de nos dar o seu herói passeando em Viana, no século 17, de elmo medieval e armado de rodela e sica, como os lusitanos do tempo de Estrabão, é evidente que a lenda não passa duma pura fábula, que se explica facilmente, notando que a estátua de Viana, do mesmo modo que todas as suas parentas, “segura as vísceras com o escudo”, para nos servirmos da frase da tradição, i. e., tem o escudo numa posição que justifica esta frase."


Estátua de Guerreiro encontra-se presentemente na "Casa dos Nichos", situada na Rua de Viana, é uma das mais antigas casas do centro histórico de Viana. É um edifício do século XV recuperado para instalar um núcleo dedicado à arqueologia de Viana do Castelo.
A Estátua do Guerreiro Galaico, uma das joias da exposição permanente da Casa dos Nichos (Núcleo Museológico de Arqueologia de Viana do Castelo) foi cedida temporariamente ao Museo de Galicia onde, em conjunto com peças cedidas por noventa instituições da Galiza e Norte de Portugal, figurará na exposição “Gallaecia Petrea”.
Esta mostra, a mais importante do género até agora realizada, pretende agrupar o mais representativo espólio, em pedra, da vasta região que um dia pertenceu à província romana da Gallaecia, província que ocupou todo o território da Galiza e o Norte de Portugal. 
A inclusão do Guerreiro Galaico de Viana do Castelo nesta exposição prende-se com a sua importância artística e com o facto de ser o mais epigrafado de todos os exemplares até agora conhecidos. 
A exposição “Gallaecia Petrea” decorreu no Museu da Cidade da Cultura da Galiza, em Santiago de Compostela, (dia 15 de junho) e esteve patente ao público até ao final do ano de 2012. 
Entretanto, uma réplica do guerreiro em tamanho natural, ocupará o espaço do original.



Viana do Castelo - Origens:

"A ocupação humana da região de Viana remonta ao Mesolítico, conforme o testemunham inúmeros achados arqueológicos (anteriores à cidadela pré-romana) no Monte de Santa Luzia.
A povoação de Viana recebera a Carta de Foral, de Afonso III de Portugal em 18 de Julho de 1258, tendo passado a chamar-se Viana, da Foz do Lima.
Até à sua elevação a cidade em 20 de Janeiro de 1848, a actual Viana do Castelo chamava-se simplesmente "Viana" (também referida como Viana da Foz do Lima" e "Viana do Minho", para diferenciá-la de Viana do Alentejo.
Na cidade - que cresceu ao longo do rio Lima - podem ser observados os estilos renascentistas, manuelino, barroco e Art Deco. Na malha urbana destaca-se o centro histórico, que forma um circulo delimitado pelos vestígios das antigas muralhas. Aqui cruzam-se becos e artérias maiores viradas para o rio Lima, e destacam-se a antiga Igreja Matriz, que remonta ao séc. XV, a Capela da Misericórdia (séc. XVI), a Capela das Almas, e o edifício da antiga Câmara Municipal, na Praça da Monarquia (antiga Praça da Rainha), com uma fonte em granito do séc. XVI."
Para além deste Património arquitectónico no pequeno núcleo citadino vislumbram-se casas típicas dessas épocas e com as características e ornamentos aos estilos atrás mencionados.
Dessas casas aparecem pedras de armas afixadas nas fachadas, sendo distribuídas por casas tradicionais, por casas nobres e apalaçadas, cujas personagens justificaram a mercê dada pelo seu rei, quer por actos em prol do País, quer em prol da benemerência e interesses locais ou por razões politicas.
No pequeno núcleo histórico circunscrito entre a linha férrea e o rio Lima e por pequenos passeios pedonais realizados pessoalmente pelo seu interior se destacaram e se recolheram um bom punhado de Brasões, de Heráldica de Família, que se pretende abordar e mostrar neste blogue.
Dos 27 brasões referenciados no mapa, alguns não foram encontrados neste pequeno passeio efectuado em dia e meio, de uma pequena estada naquela linda cidade.  A recolha mereceu também em buscas de sites locais que me ajudaram a enriquecer este projecto de inventariação de brasões de família no núcleo antigo desta cidade.
Provavelmente haverá ainda outros por descobrir nessas pequenas vielas e ruas, e encobertas em muitas casas que apresentam características muito especiais, à sua época a que cada uma delas terá sido edificada. Vislumbramos, portas e janelas lindamente executadas em granito, do barroco ao manuelino, muitas casas ainda sustentam nos seus beirais gárgulas de todos os feitios e igualmente outras pedras de armas, nacionais e da cidade.
À medida que se apresenta cada peça de armas, e sempre que possível, será abordada a descrição da pedra de armas e de uma pequena história, da casa ou da família, efectuada pela recolha na internet e especialmente no blogue "olharvianadocastelo.blogspot" e da obra "Casas de Viana Antiga" que merecem uma especial atenção e um elogio de relevo por se dedicarem exclusivamente ao concelho e à cidade.

Esquema geral da localização das Pedras de Armas de Família - Viana do Castelo

Listagem:
1 - Casa dos Monfalim (séc. XVII/XVIII) - Gaveto do Passeio das Mordomas da Romaria com a Rua Nova de Santana
2 - Casa da Barrosa (séc. XVIII) - Rua Manuel Espregueira, n.º 87
3 - Casa dos Abreu Coutinho (séc. XVIII (?)) - Largo Vasco da Gama
4 - Casa dos Melo e Alvim (séc. XVI) - Av. Conde da Carreira
5 - Capela da Casa da Carreira (séc. XVIII) - Rua dos Bombeiros
6 - Casa dos Werneck (séc. XIX) - Av. Conde da Carreira, n.º 6
7 - Casa dos Pimenta da Gama ou Casa da Piedade (séc. XVIII) - Rua Mateus Barbosa, n.º 44
8 - Casa do Campo da Feira (séc. XVIII) - Largo 5 de Outubro, n.º 64
9 - Casa dos Sousa Meneses - Rua Manuel Espregueira, n.º 212
10 - Casa da Vedoria (séc. XVII) - Rua Manuel Espregueira, n.º 152
11 - Casa da Carreira (séc. XVI) - Passeio das Mordomas da Romaria
12 - Casa Costa Barros (séc. XVI) - Rua S. Pedro, n.º 28
13 - Casa dos Aranha Barbosa - Rua da Bandeira, n.º 174
14 - Casa Barbosa Maciel (séc. XVIII) - Largo S. Domingos
15 - Casa dos Malheiro Reymão (séc. XVIII) - Rua Gago Coutinho e Praça das Couves
16 - Palácio dos Cunhas (séc. XVIII) - Rua da Bandeira
17 - Casa do Pátio da Morte - Rua da Bandeira, n.º 203
18 - Casa dos Pita (séc. XVII) - Rua Prior do Crato, n.º 56
19 - Hospital Velho (séc. XV) - Rua do Hospital Velho
20 - Casa dos Torrados - Av. Luis de Camões, n.º 19
21 - Casa dos Sá Sottomaior - Praça da Republica, n.º 42
22 - Casa dos Agorretas - Gaveto da Rua dos Rubins com Rua Manuel Espregueira
23 - (família desconhecida) - Travessa da Victória, n.º 8
24 - Casa de João Velho ou Casa dos Arcos - Largo do Instituto Histórico do Minho
25 - Casa dos Medalhões, gaveto da Rua do Poço com Largo da Matriz
26 - Casa do Alpuím, Passeio das Mordomas da Romaria
27 - Casa dos Pereira Cirne - Rua da Bandeira, n.º 219
28 - Casa dos Boto e Calheiros - Rua da Bandeira, n.º 124 

fontes retiradas de:
- http://www.lendarium.org
- http://www.csarmento.uminho.pt
- http://olharvianadocastelo.blogspot.pt

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